sábado, 2 de março de 2013

UMA GOTA DE ESPERANÇA - Ademar Cordeiro







O Sol pinta de luz o amanhecer
e o nordestino tenta ver
no céu algum "siná"
uma nuvem que seja,
ou qualquer vento frio
mas em todo canto nem um fio
de umidade tem no ar

desiludido, mas sem perder a fé
parte a chamar a "muié"
os "fios" e a parentada
pra rodar mundo a fora
em busca d'água, como escora
pra esperança não despencar

A fé é a unica coisa de se apegar.
É que o Sol bota a prova
testa, quebra, racha ou entorta
só provando nossa fraqueza
que até parece, com certeza
que o Sol quer nos matar


faz pena reparar
o gado antes viçoso
olhar pro dono choroso
por ver seu gado definhar
mugindo pedindo água
e o dono sem fazer nada
por não ter nada o que dar


onde havia mata, hoje é só cinza
gado morto hoje é paisagem
barreiro, açude e barragem
hoje é chão que nada brota
até em pé de serra ou em grota
que mato verde era tradição
hoje é tudo tristeza
e o que já foi um dia beleza
hoje está só o torrão

Lágrimas? nem tem mais
ainda que queira chorar,
pois o Sol que racha o chão
endurece o coração
de quem ele mesmo faz penar
impiedoso, pena não há
maltrata, humilha o nordestino
que obrigado, desde menino
se faz de forte, se faz vingar

Desistir? opção que não há
pois cada nuvem traz esperança
e o nordestino, feito criança
logo esquece seu padecer
pega a enxada, é de se ver
pois tem com a terra intimidade
agradece a Deus, pela bondade
por lhe dar esperança de viver

autor: Ademar Cordeiro




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